Aristides Ferreira researcher from the Organizational Behavior & Human Resources Group at the BRU-Iscte, gave an interview to EntreCampus about the project REMOWA.
Aristides Ferreira is the local coordinator of the Erasmus+ project “REMOWA – Remote working management skills for HR professionals”, a European consortium being led by Polish training organisation PAIZ Konsulting,and including 6 partners from 6 countries: Poland, Belgium, Greece, Portugal, Croatia and Slovenia.
O trabalho à distância veio para ficar. Mas, para já, há mais dúvidas que certezas sobre o seu impacto, especialmente sobre os trabalhadores.
O projeto REMOWA trata do trabalho remoto, um tema que se tornou central nos últimos dois anos, devido à pandemia. Quais são os objetivos do vosso trabalho, que termina no final deste ano?
Quando a pandemia tornou o trabalho remoto obrigatório de forma generalizada, poucos profissionais estavam preparados para essa realidade. Este projeto centra-se na gestão de recursos humanos e na necessidade de esses profissionais possuírem instrumentos de gestão e motivação das suas equipas. Apesar do fim previsível da pandemia, o trabalho remoto vai continuar a ser uma realidade, por exemplo, nas multinacionais com escritórios em rede à escala mundial e que encontram aqui economias de escala. Em certos setores, como o das Tecnologias da Informação, começa a ser um requisito a possibilidade de o trabalho ser remoto.
O projeto surge no quadro da pandemia?
O projeto REMOWA foi estruturado antes da pandemia, mas acabou por ser aprovado e começar a ser desenvolvido já em período pandémico.
Como está a ser desenvolvida a investigação?
Começámos por contactar responsáveis de recursos humanos e fizemos pesquisa de artigos científicos e também de media. O objetivo era elencar quais as competências necessárias ao trabalho remoto. Dessa pesquisa resultou o conhecimento de uma série de processos de aprendizagem, a partir dos quais fomos estruturando o projeto.
O problema mais mencionado é o conflito família-trabalho. A generalidade das pessoas tem uma enorme dificuldade em separar as duas realidades.
E qual é o objetivo?
A investigação que estamos a concluir irá resultar numa plataforma digital multilingue – além de Portugal, há parceiros da Grécia, Polónia, Eslovénia, Bélgica e Croácia –, a que qualquer gestor poderá ter acesso. Nessa plataforma, é possível aceder a um Massive Open Online Course(MOOC), com seis unidades de aprendizagem, entre as quais se encontra o equilíbrio entre o trabalho e a família, os aspetos relacionados com a liderança, a comunicação organizacional, a utilização das ferramentas digitais, as competências organizacionais, e as práticas de gestão de recursos humanos de uma forma genérica. Na prática, trata-se de apresentações em PowerPoint, correspondendo cada um a uma aula temática. Cada unidade é acompanhada de notas de leitura, nas quais pode ser encontrada informação complementar. Nas apresentações, são lançados desafios aos utilizadores, perguntas e casos práticos destinados a consolidar os conhecimentos adquiridos, e ainda sugestões de trabalhos de equipa. Por fim, há um jogo, em que os participantes ganham pontos por cada desafio ultrapassado.
Em que fase se encontra essa ferramenta?
A ferramenta já existe, sendo que estamos atualmente na fase de tradução para todas as línguas do projeto.
Quais são as principais dificuldades levantadas pelo trabalho remoto reportadas pelos gestores?
O tema mais mencionado é o conflito família-trabalho. A generalidade das pessoas tem uma enorme dificuldade em separar as duas realidades. Por exemplo, nas famílias com crianças, estas não percebem que os pais estão em casa a trabalhar… Outro fator relevante é a saúde mental, como a exaustão emocional ou a depressão. Há também um problema de dispersão, ou seja, os trabalhadores não conseguem focar-se nas tarefas atribuídas. Outro tema importante tem a ver com a liderança. Liderar de forma presencial é completamente diferente de liderar de forma remota. Também referido foi o facto de o trabalho remoto se exercer geralmente em ambiente de solidão, perdendo-se as redes de suporte social. A questão dos horários também merece reflexão. Em casa são necessárias mais pausas e maior flexibilidade, exigindo uma maior autorregulação. Por último, muitas empresas não estão preparadas para terem os seus funcionários em trabalho remoto, seja no que respeita ao fornecimento de ferramentas tecnológicas, seja ao nível da formação. Detetámos ainda questões de ordem ético-legal, mas que não conseguimos estruturar, devido à grandes variações de legislação entre os vários países.
O trabalho remoto abre uma autoestrada da empresa para dentro da nossa casa e isso precisa de ser regulado.
Como lidaram com oscilação dos quadros legais, nos vários países, ao longo do tempo do projeto?
Tentámos manter o projeto isolado dessas oscilações, embora reconheçamos que é uma área em que há muito trabalho para fazer. Um dos exemplos é a interferência do trabalho nos tempos de descanso do trabalhador. O trabalho remoto abre uma autoestrada da empresa para dentro da nossa casa e isso precisa de ser regulado.
Este estudo envolve apenas a academia, ou integra também outro tipo de entidades?
O interessante deste projeto é precisamente o facto de ele envolver tanto académicos, como entidades mais próximas do mundo do trabalho. Por exemplo, o coordenador está ligado a uma consultora. Os contributos das diversas partes enriquecem bastante o trabalho.
O que está previsto em termos de disseminação dos resultados, nomeadamente da plataforma digital?
O nosso parceiro de divulgação é a Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas (APG), através da qual tencionamos fazer chegar a plataforma, de forma gratuita, às pessoas a quem ela se dirige. De igual forma, o projeto será disseminado através dos canais de comunicação próprios do Iscte e da BRU (Business Research Unit) que é centro de investigação que dá apoio ao projeto.
Faria sentido os temas da gestão de recursos humanos em contexto de trabalho remoto terem mais peso nos programas de ensino?
O tema já é abordado nos currículos desta área, embora, de facto, não de forma tão exaustiva e estruturada como a que é feita neste trabalho. Este jogo poderia ser testado em contexto de sala de aula, por exemplo.